quinta-feira, 6 de maio de 2010

palavras roubadas...

Porque é quase inevitável ficar nostálgica em mais uma queima que passa...vou roubar palavras a quem as escreveu e me fez chorar...sei lá porquê...da 1ª vez que as li...quem publicou palavras n'A Cabra espero que não se importe de as ver aqui...

"És Minha
E não é por ser Coimbra. Não quero saber das capas e dos copos e da cabra. Foi porque tive direito ao repasto completo. E é verdade que foi nesta cidade, será verdade porque foi nesta cidade?
Sempre desconfiei que era tua, mas agora tenho a certeza que és tu quem me pertence, gravada na parte de dentro da minha coxa. Muito secreta e muito profunda.
Sou muito muito mais velha agora do que em 1999 quando vi pela primeira vez a luz da Via Latina. Como comprei a capa e batina na tarde antes da Serenata fiquei com o que havia. Em vez de uma saia tinha um saco preto que rodava livremente. Hoje, bem, hoje não consigo apertar o botão!...E há também aquele dia em que a capa deixa de escorregar dos ombros e nos engole. A todos, numa massa preta só olhos e sorrisos e cabelos. E beijos, muitos beijos. Há aquela dignidade teatral, uma certa honradez, que logo se espraia para dar lugar a um trapo preto estendido na relva do jardim. Com pés doridos.
Até tive a minha serenata e tudo. Mas o que eu me lembro mesmo é das mãos, a tremer, de quem me abraçou a seguir à música. E nem deu em nada...porque o meu coração estava guardado para outros partirem. E para outros colarem. Tropeça-se tão facilmente no amor como na solidão. Daquela mesmo fria, fininha e persistente. As expectativas são tão altas que a angústia é inevitável. Disseram-te que Coimbra era assim, não foi? Treta! É muito melhor. Mas acredita que só lá está para quem quiser/fizer. Mas acredita. Eu vi.
Acredita que é possível pensar e sentir, e crescer, muito. Passei noites em claro a conversar sobre o que devia ser a educação, a universidade, o país ou o porquê de haver uma água com sabor a figo, e sempre o teatro. Chorei lágrimas de genuína alegria quando o TAGV foi pequeno para uma Magna com tanta gente. Os jardins inundaram-se de olhos no futuro e o governo deu-nos razão em toda a linha. Um dia as cortinas abriram-se e era eu quem lá estava. Um dia liguei a rádio e era a minha voz. Um dia entrei no Senado e uma cadeira era para mim. Um dia tive a coragem de me realizar pelas ideias e pelos sentidos. Aprendi a fazer sushi. Perceber o que quero é a única forma de ser feliz, e nada melhor do que fazer, experimentar. Em Coimbra foi possível. Por isso é que é ela quem me pertence. Muito secreta e muito profunda. Agora partilho-a contigo." V. Álvares

1 comentário:

Joana Martins disse...

Estranhamente, lembro-me perfeitamente dste texto... Parece que foi escrito para mim em algumas partes... Na vida sentimo-nos tantas vezes como se a desgraça só nos acontecesse a nós, mas não... E algum tempo depois, tudo me faz sorrir, até os momentos maus! Obrigada Ana, obrigada Carina, obrigada Elisa, obrigada Sónia, obrigada a tod@s o que fizeram com que Coimbra passasse a ser também minha... NOSSA!